Desilusão? Sim, acho que posso chamar de desilusão o que sinto perante a maioria das caras, gestos, palavras e olhares que encontramos no dia-a-dia do enredo humano. Não é desilusão num tom de derrota mas de pena. Pode até soar a snobismo mas, muito sinceramente, não consigo nutrir mais do que pena ao ver pessoas desistirem de um mundo diferente em prol de um sonolento e estonteante conformismo. Ao mesmo tempo, não consigo fazer qualquer tipo de condenação porque acho que não há maior pesar do que adormecermos no limiar entre o que é e o que poderia ser sido.
Mas à medida que vivo e vejo e sinto e choro, fervilha-me no sangue algo mais do que desilusão. Nasce um fruto rebelde da Revolta, do querer mais, de recusar-me a aceitar um solitário não ignorando um sim. Tem de haver algo mais do que isso, eu sei! Porque o sinto em mim e palpita longe, porque quero acreditar num passo maior do que o homem, porque quero construir o que um dia alguém sonhou. Mas a mesma pessoa que cerra os dentes de fúria, rende-se perante o virar da esquina onde assobia o vento da mudança. Só assim tudo faz sentido... porque acreditamos. A ténue fronteira entre o obscurantismo da inquietação e a liberdade do acreditar deixa-nos à deriva no mundo dos que não podem, não querem ou não são. Mas será que isso realmente importa? Claro que importa! Eu tenho o Mundo em que acredito mas ele só existe porque um outro mundo me disse que não e é a esse mesmo mundo que um dia conseguirei provar que existe um sim.
Sílvia Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário