domingo, setembro 03, 2006

Cartas de amor...

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22 de Julho de 1997
Minha Querida Catherine,
Sinto a tua falta, meu amor, como sempre, mas hoje é particularmente difícil porque o oceano tem estado a cantar para mim, e a canção é a da nossa vida juntos. Quase consigo sentir-te a meu lado enquanto escrevo esta carta, e consigo cheirar o aroma de flores silvestres que me faz sempre lembrar de ti. Mas neste momento, essas coisas não me dão qualquer prazer. As tuas visitas têm sido menos frequentes, e por vezes sinto como se a maior parte do que sou estivesse lentamente a dissipar-se.
Estou a tentar, ainda assim. à noite quando estou sozinho, chamo por ti, e sempre que a minha dor parece ser a maior, encontras constantemente maneira de voltar para mim. Ontem à noite, nos meus sonhos, vi-te no pontão perto de Wrightsville Beach. O vento soprava através do teu cabelo, e os teus olhos retinham a luz pálida do Sol que se desvanecia. Fico espantado quando te vejo encostada ao parapeito. Tu és bela, penso, enquanto te vejo, uma visão que nunca consigo encontrar em mais ninguém. Começo a andar lentamente na tua direcção, e quando finalmente te voltas para mim, reparo que outros têm estado a observar-te também. "Conhece-la?" perguntam-me em sussurros invejosos, e enquanto sorris para mim, respondo simplesmente com a verdade. "Melhor do que o meu próprio coração."
Paro quando chego perto de ti e envolvo-te nos meus braços. Anseio por esse momento mais do que qualquer outro. É a razão da minha vida, e quando tu retribuis o meu abraço, eu entrego-me a esse momento, em paz mais uma vez.
Levanto a mão e toco suavemente na tua face e tu inclinas a cabeça e fechas os olhos. As minhas mãos são ásperas e a tua pele é macia, e interrogo-me durante um momento se vais afastar-te, mas claro que não o fazes. Nunca o fizeste, e é em alturas como esta que eu sei qual é o meu objectivo na vida.
Estou aqui para te amar, para te segurar nos meus braços, para te proteger. Estou aqui para aprender contigo e para receber o teu amor em troca. Estou aqui porque não existe outro sítio onde possa estar.
Mas depois, como sempre, a neblina começa a formar-se enquanto permanecemos juntos um do outro. É um nevoeiro distante que nasce do horizonte, e descubro que começo a ficar com medo à medida que ele se aproxima. Ele insinua-se lentamente, envolvendo o mundo à nossa volta, cercando-nos como que para evitar que fujamos. Como uma nuvem rolante, cobre tudo, fechando, até mais nada restar senão nós os dois.
Sinto a minha garganta a começar a fechar e os meus olhos a encherem-se de lágrimas porque sei que são horas de partires. O olhar que me lanças naquele momento persegue-me. Sinto a tua tristeza e a minha própria solidão, e a dor no meu coração, que permanecera silenciosa só por um pequeno intervalo de tempo, torna-se mais forte quando tu me soltas. E então estendes os braços e dás uns passos para trás, desaparecendo no nevoeiro porque ele é o teu lugar e não o meu. Anseio Por ir contigo, mas a tua única resposta é abanares a cabeça porque ambos sabemos que é impossível.
E eu assisto com o coração a partir-se enquanto desapareces lentamente. Dou comigo a esforçar-me por lembrar tudo acerca daquele momento, tudo acerca de ti. Mas depressa, sempre demasiado depressa, a tua imagem desaparece e o nevoeiro recua para o seu lugar longínquo e eu fico sozinho no pontão e não me importo com o que os outros pensam quando baixo a cabeça e choro e choro e choro.

Garrett

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Quando é que estas cartas de amor voltam a ser moda? Porque é que a forma de amar não volta a ser moda como nos anos 70's e 80's, como acontece em relação à moda? Porque é que os sentimos verdadeiros deixaram de existir? Porque é que se deixou de dar valor aos valores das pessoas, e começou-se a dar às cores da maquilhagem das unhas e pés? ao tamanho do cabelo e à marca dos tênis???

7 comentários:

Anónimo disse...

Consumismo+consumismo+consumismo...sempre o consumismo.
Marketing+marketing+marketing ...sempre marketing.
Imagem+imagem+imagem...só a imagem.
Os pregões da nova religião - a "Aparência".

Anónimo disse...

As coisas não são tanto assim, nos anos idos a aparência também contava, a aparência sempre contou, os padrões estéticos é que podem ser outros. Concordo que a imagem é cada vez mais importante, mas também pensem que nós parecemos aquilo que queremos parecer. Os sentimentos hoje também existem, só que as pessoas perderam a paciência e querem que tudo aconteça depressa, tão depressa como a revolução tecnológica e poucos sabem esperar.

Migas-o-Sapo disse...

Apoio tudo o que foi dito. A modernidade trouxe coisas muito boas mas outras, valores dos tempos antigos, em vez de se aperfeiçoarem, foram sendo esquecidas, ignoradas e ridicularizadas, caindo em desuso. Eu já escrevi algumas cartas deste género a duas moças que adorei profundamente. Só que se calhar a minha aparência não é grande coisa, eu sou uma pessoa simples e remediada, e as únicas respostas que tive foram a indiferença e a chacota. Que desencantados estão os nossos tempos... e tão idiotas as pessoas...

Anónimo disse...

AS tuas perguntas são pertinentes, por ex: em termos musicais os anos 80 foram o máximo, mas isso tem que ver com a idade, etc. Não te preocupes tanto com isso, já viste tens o teu blog. Garrett nem sonhava!

Anónimo disse...

"As palavras que nunca te direi". Certo?

Escrever as cartas não será tão dificil assim, contudo senti-las, isso é que pode ser um bico de obra!

1/2Kg de Broa disse...

Essa cartas de que falas foram substituidas. No meu ver não por maquilhagens e imagens, mas por sms grátis.

Migas-o-Sapo disse...

Mensagens por telemóvel... bah... mal dão para se avisar o pessoal que um tipo vai chegar atrasado, quanto mais para fazer o mais difícil dos discursos: o do coração.